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Os Fofos apresentam a exuberante mestiçagem brasileira

29 out

Os Fofos Encenam “Terra de Santo” – foto de João Caldas

Michel Fernandes, do Aplauso Brasil (Michel@aplausobrasil.com)

SÃO PAULO – Terra de Santo, novo fruto consagrador da excelência do grupo Os Fofos Encenam, coloca no palco com extremada poesia, por meio das cinco fontes religiosas – indígena/ xamânica, judaica, católica/ cristã e afro-brasileira – que comprovam a miscigenação de nossa cultura, um retrato de um Brasil a espelhar a diversidade. O espetáculo fica em cartaz até o próximo domingo (4) no SESC Belenzinho.

Com dramaturgia assinada por Newton Moreno (Agreste, As Centenárias e Maria do Caritó, entre outros) em parceria com os “atores-criadores” que compõem o elenco de Terra de Santo, essa é a terceira peça resultante da pesquisa empreendida pel’Os Fofos Encenam sobre as raízes antropológicas de nossa história tendo como timão a cultura dos engenhos de cana-de-açúcar.

“Terra de Santo” – foto de João Caldas

Similar ao Espaço dos Fofos, sede do grupo situada na Bela Vista, o público é recebido em meio a uma espécie de refeitório  com longas mesas de madeira cobertas por toalhas plásticas  ladeadas por bancos de madeiras em que a plateia se mescla aos personagens sentando-se nos bancos das mesas. Uma cozinha está localizada numa das extremidades da cena. Lá são preparados os quitutes servidos para os cortadores de cana –  carne-seca e mandioca cozida que é dividida com o público – e do coração dessa comunidade (não é à toa que a mesma ocupa o lado esquerdo da cena) jorram os primeiros condimentos de um povo tão diverso que, mesmo num espaço exíguo,  mistura sagrado e profano e resulta num rico caldo que evoca a exuberante mestiçagem brasileira. Aqui, nessa espécie de preâmbulo, são apresentadas as personagens que formam essa máquina do cultivo da cana.

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Atores demonstram admirável preparo físico em Maratona de Nova York

5 out

Crítica de Nanda Rovere, especial para o Aplauso Brasil (nanda@aplausobrasil.com)

"Maratona de Nova York" - Foto de Desirée do Valle

SÃO PAULO – Em Maratona de Nova York, em cartaz no Teatro Eva Herz, o público acompanha o treinamento de dois homens que pretendem correr a Maratona de Nova York.

Anderson Muller e Raoni Carneiro interpretam os personagens Mário e Steve, que estão batalhando para vencer o desafio de correr com sucesso as 4/5 horas de duração da Maratona.

O que chama atenção especial na montagem é o preparo físico dos atores. Eles correm sem parar e ainda imprimem aos diálogos um grau de emoção que transmite com precisão a ânsia dos personagens pela superação dos seus limites. Continue lendo

Uma Inteligente discussão sobre arte e amizade

3 out

Crítica de Luís Francisco Wasilewski, especial para o Aplauso Brasil (lfw@aplausobrasil.com)

"Arte"

SÃO PAULO – Arte foi o texto que fez com que a dramaturga Yasmina Reza se tornasse um dos principais (na minha opinião, o principal) nomes da dramaturgia contemporânea. Sua primeira montagem no Brasil aconteceu em 1998, sob a direção de Mauro Rasi, tendo no elenco Paulo Goulart, Pedro Paulo Rangel e Paulo Gorgulho. Agora, a peça de Yasmina ganhou uma nova encenação com a direção de Emílio de Mello.

Emílio tem se revelado um diretor especializado em encenar os textos da autora. Ele já foi o responsável pelas montagens de O Homem Inesperado e Deus da Carnificina.

No programa da montagem brasileira de Deus da Carnificina, Yasmina escreveu que produz um “teatro de tensão”. É uma definição precisa e exata sobre a sua obra dramatúrgica. Suas personagens estão sempre em volta de uma discussão acirrada, o que fez dela uma escritora que trouxe de volta à cena contemporânea o valor da palavra. Continue lendo

Barracão Cultural encena Facas nas Galinhas no Espaço Elevador

25 set

Nanda Rovere, especial para o Aplauso Brasil (nanda@aplausobrasil.com)

Cláudio Queiroz e Eloísa Elena em "Facas nas Galinhas"

SÃO PAULO – Após temporada no espaço da Cia do Feijão, Facas nas Galinhas re-estreia no Espaço Elevador, dia 06 de outubro (sábado). A direção é de Francisco Medeiros. A trilha sonora é de Dr Morris. Cenário e figurino: Marco Lima. Marisa Bentivegna assina a iluminação. No elenco estão os atores Eloisa Elena, Cláudio Queiroz e Thiago Andreuccetti, do Barracão Cultural.

Facas nas Galinhas, de David Harrower, é um texto poético que propõe reflexões sobre a busca de uma nova rotina de vida. Os personagens da peça vivem num vilarejo distante da cidade, lugar em que a as lendas fazem parte de uma população sem grandes perspectivas de futuro.

A vida da mulher de um lavrador (Eloisa Elena) se modifica a partir do contato com um moleiro. A moça vai ao moinho para moer a farinha. Continue lendo

A Peça do Casamento é destaque no Porto Alegre Em Cena

18 set

Luís Francisco Wasilewski, especial para o Aplauso Brasil (lfw@aplausobrasil.com)

Dudu Sandroni e Guida Vianna

PORTO ALEGRE – O dramaturgo norte-americano Edward Albee sempre soube, como poucos, tratar na sua literatura da falência da instituição familiar. A peça que o consagrou, a já clássica Quem Tem Medo de Virginia Woolf? apresenta dois casais que se encontram e acabam travando uma batalha sem trégua. Um Equilíbrio Delicado trazia também dois casais, porém a presença da filha problemática e da cunhada alcoólatra de um dos casais servia para que Albee mostrasse como são belicosas as relações familiares. Esta desagregação da célula familiar serviu de mote para a sua recente peça A Cabra ou Quem é Sylvia?, encenada há quatro anos no Brasil.

Agora, temos o privilégio de assistir A Peça do Casamento, texto que ele escreveu em 1987. O espetáculo que integrou a programação do Décimo Nono Porto Alegre Em Cena é mais uma excelente montagem de uma peça desse grande autor. Continue lendo

O desespero da incerteza do porvir é o centro de O Salão de Baile Elétrico

8 set

Michel Fernandes, do Aplauso Brasil/ iG (Michel@aplausobrasil.com)

Peça do irland^s Enda Ealsh

SÃO PAULO – Chega a causar certa vertigem os longos solilóquios, repletos de detalhes, que são disparados num ritmo que só preserva espaços para a respiração necessária para que os atores de Salão de Baile Elétrico, em cartaz apenas às sextas e sábados no Auditório SESC Pinheiros, consigam   transmitir claramente as palavras criadas por Enda Walsh. Ao dirigir com a simplicidade desejável para dar à luz a poesia do texto interpretada com talento indiscutível, Cristina Cavalcanti desnuda o desespero ansioso do porvir incerto.

São três irmãs que dividem o mesmo teto, sendo que as duas mais velhas – Breda (Angela Barros) e Clara (Lilian Blanc), ambas em interpretações viscerais, a sobrevoar entre o drama, o patético, a volúpia, entre outras paixões, com vigor e talento –  compartilham o trauma da frustração de um relacionamento amoroso não efetivado. O medo ou covardia faz com que ambas permaneçam confinadas na casa revivendo os fatos ocorridos no baile elétrico que motivou suas exclusões do convívio com o tempo real que são compartilhados com Ada (Andréa Tedesco, em excelente interpretação). Continue lendo

New York New York: da Bela Vista à Broadway. Por que não?

26 ago

Afonso Gentil, especial para o Aplauso Brasil (aplausobrasil@aplausobrasil.com)

"New York New York"

SÃO PAULO – A explosão recente de montagens de musicais  nos palcos do Rio de Janeiro e de São Paulo tem merecido destaque da imprensa, quer em copiosas resenhas como estampando anúncios de lançamento até em páginas duplas dos jornais.  Cumpre ela, a imprensa, seu papel de formadora de opinião e de aliciamento de plateias.

Tudo estaria no melhor dos mundos não fosse a atitude preconceituosa e caipira de setores da crítica especializada, ridiculamente  oposta ao prazer de multidões  de mentalidade cosmopolita,  que instintivamente unem a arte e o entretenimento sem culpa.

"New York, New York"

AGORA NA BELA VISTA UMA SINGULAR SURPRESA

O progresso técnico artístico da mão de obra dos musicais salta à vista. De onde vem esse batalhão de bailarinos, sapateadores, coreógrafos, cantores, instrumentistas, diretores musicais, maestros, engenheiros de som, além dos costumeiros cenógrafos, figurinistas e iluminadores? Ou outras funções especialíssimas? Juntas, chegam a ocupar páginas  duplas dos “créditos” no programa.

A resposta a gente encontra no empenho de cada um em se aprimorar, com professores de música ou cursos de dança e canto, daqui ou alhures, oferecendo aos produtores, em consequência, currículos de atordoante sedução. Aqui, sem a intromissão das teorias pós-dramáticas de representação dos cursos e de alguns palcos  experimentais, continuamos no melhor dos mundos. Continue lendo

Crítica de A Partilha por Macksen Luiz

18 ago

Macksen Luiz, do Blog do Macksen Luiz, parceiro do Aplauso Brasil (macksenr@gmail.com)

21 anos depois de sua estreia "A Partilha", texto e direção de Miguel Falabella, volta aos palcos, em re-estreia comemorativa

RIO DE JANEIRO – Há 22 anos estreava no Teatro Cândido Mendes uma modesta produção com quarto atrizes, a maioria delas conhecida pela televisão, que lançava o primeiro texto de maior fôlego de Miguel Falabella, A Partilha. A repercussão crítica e popular desta habilidosa comédia dramática de Falabella, que foi vista por milhares de espectadores, excursionou pelo país durante anos e foi levada ao cinema, agora ganha nova temporada no Teatro Oi Casa Grande.

Nesta revisão, confirmam-se suas qualidades, reitera-se a sensibilidade do autor para o universo feminino e para comédia de costumes da classe média. Ao escrever sobre o texto na época, dizia que A Partilha é uma peça simples na qual quatro irmãs se encontram no velório da mãe. retomando pela circunstância da morte (o fim de um tempo) o passado comum. A divisão dos bens, deixados pela morta, acentua as diferenças entre elas e o início de possíveis transformações, lançando-as num jogo em que a crueldade serve de estímulo para que, da divisão, cheguem à unidade, simbolizada pelo conjuntinho de café da Toddy, objeto da união afetiva. Continue lendo

Imperdível, O Jardim fica até o final de agosto no TUSP

17 ago

Michel Fernandes, do Aplauso Brasil/ Ig (mfmanso@globo.com)

"O Jardim" - foto de Annelize Tozetto

SÃO PAULO – A breve, porém marcante, trajetória da Cia. Hiato desde seu início, em 2008, apresenta espetáculos de qualidade e inventividade que mereceu atenção e expectativas maiores, seja por parte da mídia especializada, seja pelo público que a acompanha desde então. Seu terceiro trabalho, O Jardim, um dos espetáculos mais instigantes dos últimos anos, está em cartaz no TUSP apenas até o final de agosto.

Escrito e dirigido por Leonardo Moreira, O Jardim utiliza o mal de Alzheimer como impulso para abordar a memória de maneira interessante e bastante inovadora.

A memória é matéria-prima da obra de consagrados autores como Marcel Proust que, na série de romances Em Busca do Tempo Perdido, faz com que as recordações dos personagens surjam a partir de associações com perfumes, sabores etc. Um indivíduo com Alzheimer também é movido por emoções trancafiadas em seu inconsciente para ter lapsos de memórias de fatos que ocorreram em seu passado mesmo que, em sua contemporaneidade, as lembranças mais ínfimas falhem e ele esteja entregue à catatonia de suas recordações passadas.

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Um delicioso chá de maçã pode reservar desagradáveis surpresas em Serpente Verde Sabor Maçã

1 ago

Nanda Rovere, especial para o Aplauso Brasil (aplausobrasil@aplausobrasil.com)

"Serpente Verde Sabor Maçã"SÃO PAULO – Serpente Verde Sabor Maçã, de Jô Bilac e Larissa Câmara, apresenta a loucura da Senhora G, que mata as suas visitas se estas lhe parecem portadoras de um caráter duvidoso. Depois de temporada na capital paulista e viagens por cidades do interior, através do projeto SESI Viagens Teatrais 2012, a peça fica em cartaz nos Parlapatões entre sexta-feira (3) e 22 de agosto.

As vítimas são pessoas interessadas na compra da casa em que Senhora G reside. Nenhum personagem é totalmente bom ou mau. Aos poucos eles vão expondo as suas qualidades e defeitos.

A anfitriã, Senhora G, considera que está fazendo um favor á humanidade quando elimina um ser abominável. Ela decide quem vive, quem é bom ou mau, e se sente importante pelo poder que detém sobre o destino dessas pessoas: se escolher o chá do bule prateado o envenenamento, do contrário a pessoa ainda tem uma chance de sobreviver.

Num tom expressionista e de humor negro, a peça transcorre com humor.A cada momento em que a Senhora G vai servir o chá há o suspense: mais um assassinato? Continue lendo