Maurício Mellone, editor do Favo do Mellone site parceiro do Aplauso Brasil (aplausobrasil@aplausobrasil.com)
Com direção de Ruy Guerra, Exilados traz uma discussão muito pertinente aos dias de hoje: traição, possessividade e ciúme nas relações humanas.
Com André Garolli, Franciely Freduzeski e Álamo FacóSÃO PAULO – Num momento em que o modelo tradicional de amor romântico está sendo cada vez mais questionado e posto em cheque, Exilados — que acabou de estrear no Teatro Nair Bello — chega em boa hora. O inusitado é que esta peça do escritor irlandês James Joyce foi escrita em 1918 e a ação se passa seis anos antes, portanto há exatamente 100 anos! E a discussão central do texto é extremamente atual: o casal Richard Rowan e Bertha, interpretados por André Garolli, Franciely Freduzeski, volta a Dublin depois de um período de exílio e retoma contato com o jornalista Robert Hand, vivido por Álamo Facó. Muito próximo de Richard, Robert tem verdadeiro fascínio pela bela esposa do amigo e entra em conflito interno, pois não sabe se dá vazão aos desejos ou se cumpre as convenções sociais do início do século XX. Já o escritor Richard é contra a possessividade entre as pessoas e mantém uma relação aberta e de total liberdade com Bertha, uma mulher de personalidade forte que chega a contestar os ideais defendidos pelo marido.
Com apenas algumas cadeiras de madeira, o cenário despojado —assinado por Marcos Flaksman— é ideal para a proposta do diretor Ruy Guerra de enfatizar o duelo de ideias e sentimentos dos personagens. As cenas são sempre em dupla: os dois amigos, o casal ou o jornalista e Bertha, os amantes. Há ainda a personagem de Cristina Flores, Beatrice, prima de Robert com quem na infância foram prometidos um para o outro; hoje ela é professora de música do filho do casal e nutre forte admiração por Richard, que mantém por ela um amor platônico, concretizado em sua obra literária. Bertha e Beatrice têm uma velada relação de ciúme e rivalidade. Continue lendo